Desconexão

Perdi meu rumo no meio de alguma estrada,

procuro placas de sinalização ou mapas que me orientem,

tantas ruas iguais às outras, permaneço sem direção,

meu orgulho impede que eu peça informação,

sigo tentando desvendar o fim de cada avenida,

como se me punindo pudesse apagar os erros passados,

nunca mais serei a mesma pessoa de ontem nessa vida,

estou numa corrida de mim mesmo para lugar algum,

a indefinição é minha maior segurança nesse momento,

não preciso de aplasusos nem de lágrimas nesse ato,

sou apenas um andarilho caminhando pelo desconhecido...

Não me espere com o jantar no forno,

não sei mais o que é ter uma casa para voltar,

meu mundo virou de ponta cabeça na outra esquina,

meu fôlego se perdeu no último pulo da montanha,

agora só há espaço para meditar como os budistas,

tentando silenciar meus gritos internos dia e noite,

enganando a mim mesmo nesse fingir de faz de conta,

onde no reino do convencimento alheio esteja minha palavra,

indiferente á cada sensação de perigo, de invasão, de aproximação,

correndo como um maratonista sem asas nos pés para o último lugar,

me jogando na grama do jardim dos fundos sem criar raizes,

sem ser parte de alguma coisa que não esteja inscrita em mim...

Desisti de fazer sentido para quem quer que seja,

isso não me fará mais ou menos feliz se me perguntar,

a felicidade não é artigo de retórica ou produto de armazém,

perdi a paciência para tentativas vãs de conversão,

sou um herege de mim mesmo solto ao vento como um pára-raios,

esperando a tempestade mais forte gritar comigo,

e lá estarei pronto para voar com asas machucadas,

correndo para longe dos espelhos que me cercam,

evitando meu refléxo destoante á luz do sol matinal,

preferindo ser o cinza num mundo de cores misturadas,

sou somente essa confusão sem compreensão, não me analise!