Largando amarras

Parto largando amarras

quebrando a maré dos dias

e apenas guardando das vigílias nocturnas

a pálida cor de auroras mitológicas.

Onde estará Veneza a esta hora?

E que passos vaguearão pelas ruelas de Paris?

Que tesouros se esconderão nas afundadas arcas?

Que canto de sereia se ouvirá nas conchas nacaradas?

Parto levando o Sol acariciante

e o vento quente que me envolve e me beija

nas manhãs douradas do Suão.

Quem cantará a Pampa neste momento?

Que vozes se ouvirão no cais do Tejo?

Parto erguendo estátuas por onde passo,

toscos mármores que o Tempo polirá.

Alguém virá um dia

acariciar um seio ou uma coxa de pedra

neles adivinhando meu coração aberto e quente.

Parto cantando as estações de Vivaldi

e a Amizade muita e o Amor também.

Que tocarão as orquestras em Viena?

Que almas gemerão no Coliseu?

Que olhos se erguerão no céu londrino?

Parto fechando o livro das ausências,

saboreando versos quais orgasmos de alma,

as palavras repetidas do meu canto!

Quem se lembrará de mim olhando a estrela?

Onde estarei eu nesse doce instante?...

Clotilde S
Enviado por Clotilde S em 18/03/2008
Código do texto: T906304
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