O outro

O Outro

Outro dia, olhando no espelho

Eu me assustei;

Vi uma imagem assombrosa

Por isso me espantei.

Eu olhei aquela figura

Com certo desprezo;

Não lhe tive nenhum apreço.

O reflexo no espelho revelava

Toda a monstruosidade daquele ser;

Ele tinha a face desfigurada,

Os olhos fundos e sem brilho;

A roupa maltrapilha,

O corpo quase desnudo

Ressaltava a sua estrutura óssea

A aparência daquela figura

Era de fato, espantosa.

Virei o rosto para o lado

Sem vontade de encarar aquele esboço.

Mas algo me atraia para o espelho

Eu não entendia exatamente por quê.

Finalmente, reconheci aquele ser.

Meu Deus! Que susto tomei;

A figura espantosa, era eu.

O espelho revelava apenas

A criatura que me tornei.

Assustei-me com a minha

Própria imagem.

Talvez porque o espelho

Obrigou-me a olhar não só a casca

Que me restou,

Mas olhar para dentro de mim.

Percebi que não havia distorção,

O espelho revelava a criatura

Que me tornei.

Parecia de fato uma aberração.

O não reconhecimento

De minha própria imagem

Trouxe-me recordações

Eu me perguntei.

Cadê a minha vaidade?

Aonde foi parar a minha dignidade?

Eu a perdi junto com o meu vício.

Ele não só tomou conta de mim

Como também me afastou

Dos meus entes queridos.

Ele me queria só para si.

Que egoísmo! - Pensei.

Perdi tudo,

Tornei-me um estranho

Nem eu próprio reconheci-me

No espelho;

Não havia mais caminho pra seguir;

Nem eu mesmo saberia aonde ir.

Cheguei ao fundo do poço

Não restou mais nada.

Até a minha auto-estima

O danado do vício levou.

Finalmente, percebi

Escolhi o caminho mais difícil,

A estrada mais sinuosa para seguir.

Tomei o caminho da alucinação

Tornei-me um desvairado

No mundo da alienação.

*****

Marsla Araújo

Marsla Araújo
Enviado por Marsla Araújo em 15/03/2008
Código do texto: T902288
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