FILIGRANA

**-** FILIGRANA **-**

Jorge Linhaça

Sou onda quente do mar

a beijar a tua areia

sou o verso a te evocar,

sou maré do amor, cheia.

Sou essa lua que brilha,

sou tua estrela distante,

sou a tua escotilha,

na nau do amor incessante.

Sou o grito que te chama;

a chama que tu não vês;

O revéz da tua cama,

filigrana na tua tez

Sou o erro e o acerto,

sou a luz e a escuridão,

sou, da porca, o aperto,

que trazes no coração.

Sou o prego na parede,

aquarela pendurada,

sou o fim da tua sede,

sou o tudo, sou o nada.

Sou o grito que te chama;

a chama que tu não vês;

O revéz da tua cama,

filigrana na tua tez

Sou a brisa que afaga,

sou o vento que assusta,

sou essa lembrança vaga,

sou a paixão insepulta.

Sou tanto, que nada sou,

algo esquecido no canto,

a andorinha que voou

e longe secou o pranto.

Sou o grito que te chama;

a chama que tu não vês;

O revéz da tua cama,

filigrana na tua tez

Sou Otelo enciumado,

sou Romeu sem Julieta,

sou o eco do passado,

sou a passada colheita.

Sou o sol que brilhou quente

numa tarde de verão,

e que hoje vive ausente

tão longe de tua emoção.

Sou o grito que te chama;

a chama que tu não vês;

O revéz da tua cama,

filigrana na tua tez