Minha desventura
Minha desventura
Tanto busquei entender-vos,
Mas nem de longe pude ver-vos
Que este duro amor vosso me condena!
Vosso amor,Senhora,sois mui pouco,
E viva eu cá num sufoco,
Posto em desventura,
No desespero e na dor!
E embora,seja leve a pena,
Será em vão,que é pena d’amor,
Pesada e dura!
E sois de alma tão mesquinha
Que esta pena que é minha,
Mui em breve também será vossa!
Deixar-vos um coração,
Talvez,não possa,
Que livre era;porém,agora preso,
Atado firme ao desprezo
De vossa ingratidão!
Nesta alma minha dura
Tanto desespero,tanta injúria,
Tanto desengano vosso,
Mas sei que d’amor não posso
Já nunca pôr um fim!
Se a cura para o amor seja a morte
Nem em sonhos tivera a sorte
Quem se sustenta de um engano!
E seja tão largo este dano
Que nem na morte terá fim!
Mas;porém,Senhora,
O que me fazeis agora
Retornará em vossa vida,
Pois d’amor a ferida
Não sara,sempre dura,
E sempre consome,
E,então, ireis lembrar de um nome:
Minha desventura!