Ao acaso
Se um dia acordasse
Caçador de borboletas,
E no meio do campo
Naquele mesmo campo
Que sempre cacei,
Surgisse uma borboleta
Nunca vista, tão encantadora,
Que meus olhos
Encheriam-se de lágrimas...
Ela teria laçado meu coração,
Espetado em mostruário,
Colorido,
Guardando para si sempre
O caçador de borboletas.
Se um dia dormisse
Mercador de sonhos,
E no meio da noite
Deparasse-me com
O sonho nunca sonhado,
Nem em momentos magistrais de realidade,
E por um lapso de eternidade
Cativasse todo meu velho mundo,
E mostrasse que podemos acreditar,
Devemos sempre,
Trabalhar para renovar estrelas no céu.
Se um dia fosse
Colecionador de paixões,
E no meio da busca,
A mesma busca de sempre,
Sem que percebesse,
Meu reflexo fantasiar-se de mulher,
Ou de todas as mulheres que sempre busquei,
Mostrando que não amei ainda a vida toda,
E nem de perto estive,
Pois chegou a hora
Do meu reflexo deixar de ser meu.
Se um dia ouvisse
Afrodite em pessoa,
Cantando seus medos
E no meio dos medos,
Deparasse com a imagem da sua imagem.
E apaixonada Por ela,
Não deixaria ver o amor do ser amado,
Pois este não cresce
Em campos de papoulas vermelhas,
No meio de flores,
De girassóis ou
Em rosas desabrochadas?
Se um dia vivesse,
Don Juan de Lorenzo,
E o meu mais verdadeiro ser,
Aquele que sou eu,
Surgisse você na minha vida,
Como donzela curiosa,
A espera de um trem sem destino,
Minha Dulcinéia tanto esperada
Quantos dias viveriam seus?
Se um dia buscasse,
Deus...
E no meio do caminho
Parasse sobre uma ponte
E você fizesse presente.
Mostrando que não havia caminhos,
Que todos os caminhos
Seguem as batidas do coração,
Do beijo que fica sempre na boca,
Na boca que salta,
Na ponte sem caminho,
Sem ponte,
Com amor,
Nosso amor.