As palavras me pertencem
Ontem comprei uma máquina de escrever,
Torturava-me esculpir as minhas palavras
E não tê-las em minhas mãos para ás ler,
Escrevi: meu nome é Gilberto, e pude tocá-las.
Privou-nos a tecnologia de tocarmos em nossas próprias palavras.
O toque é essencial, é o que faz o tato senti-las perfeitas,
Acariciei minhas vogais e não deixei ciumenta as consoantes,
Com a ponta de meu dedo senti o relevo de minhas letras
Percebendo que são todas reais e são minhas filhas pensantes.
Privou-nos a ciência de amar a alegre letra "a" e apaixonar-se pelo irritado "r".
Agora, debruçado sobre minha máquina de construir amores
Tenho em cada martelo que crava as letras no paciente papel
Algum momento para alentar uma letra solitária de meus louvores
Algum tempo antes de soltá-la ao mundo em busca de teu mel.
Agora posso escrever a palavra amor, colocá-la na palma da mão apertando-a forte entre os dedos e deixá-la escapar areiando-se entre eles.