imagem: luquésio mello
CAMPOS DE OUTONO

                (líricas de um evangelho insano)

Arauto, anuncia-me, por favor!
O outono me vem assim, causticante,
ainda ontem sentei-me à mesa e não o reconheci.
Diz quando posso cruzar esse
portal pesado de solitário sol
azul líquido do ocidente,
Tenho os ombros demarcados,
já marquei minhas digitais na identidade,
já recolhi as taxas do passaporte,
carrego minhas cestas de pães cevados,
como  estrangeira nessa fronteira,
guardo nos lençóis ainda o incenso queimado,
carrego pesados jarros para entregar ao rei,
mas,minhas vestes já estão rotas,
por onde afinal, me passeiam 
esses meus campos?
Me rebrotam as ramas, sou 
mãe dos espinhos que me ferem.
Arauto, diz que meu nome,
será chamado ainda, antes do anoitecer...
Há séculos me oculto sob as fraturas
dessa argila, no shekina de um tempo perdido, na fundura dessa caverna insana,
há séculos seguro as rédeas dessa pauta,
entre as dissonâncias das  sombras que entoo...
há séculos  essa respiração,
o salário do sal,
minha boca na tua boca, 
no mesmo cálice...
Teimo em pulsar!!!

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