dedo(s)ão
-digite o texto.
-não quero.
-por quê?
-estou com os dedos sujos.
-como, sujos?
-estão melados, comi um doce.
-trago um guardanapo
umedecido em água morna.
-não quero.
-por quê?
-é você quem quer o texto digitado,
não eu.
-ah, então está bem!
o poeta saiu. ela ficou.
no momento em que entrava
num cyber café qualquer
atrás de alguém
que lhe digitasse o texto,
ela colocava
sobre a sua empoeirada
mesa de cabeceira
uma folha de papel
com fundo amarelo-leve
e esparsas tonalidades róseas,
com algumas borboletas azuis
no meio das quais lia-se:
TE AMO
espreguiçara-se na cama de casal
apenas de calcinha,
na cor amarela
e com as mesmas borboletas azuis,
e dali olhava pela janela
o arco-íris.
fazia um dia de sol e chuva,
pra morena de Catanduva;
ou um dia de chuva e sol,
pra Clemildyce Yspanhol.
Rio, 27/11/2006