imagem: paulo dionísio
DE LÍRICAS

                                     (líricas de um evangelho insano)


Esta minha cidade apagada
escorre,
perco-me entre os perdidos
pelas espirais desses olhos de laranjais.
Tem betume no lume!
Dê líricas à quem nada te pede,
meu amor me ouve do outro lado do mundo,
seus olhos me passeiam,
escrevo lírios na alvura negra de sua pele.
Meu país tem laranjas, sabiá!?
Sou mesma  filha dessa cidade
deserta, fria, amarela, líquida.
Sou filha desse prado sem areais,
meu céu é congelado,
meu vento gorjeia  vaganças,
meus pássaros  incineram parreirais.
Dê lírios à quem te ama e a quem não te ama também.
Porque o guerrilheiro não pode ouvir a lírica das  tréguas,
e de sua boca como de suas botas explode a faísca negra,
o doce amargo beijo das idéias dos lírios.
Meu país tem cidades negras,
de negras tetas em  líricas,
pobreza, miséria, fome,
e seus homens ainda  morrem por lírios!

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