SEMENTES DO SILÊNCIO

SEMENTES DO SILÊNCIO

Na casa de meu pai

Lá eu via uma romãzeira

A sorte dentro da casa, do fruto

Sementes de paz avermelhadas

Molhadas do sêmen, útero

Fertilidade aguçada em bondade

Lá havia uma romãzeira

Com a brisa do nascer dos dias, sonhos

Lisos, planando pássaros

Abelhas rainhas zumbindo

Querendo o mel dos perfumes

E olhares se cruzavam no lume

das esperanças em chuva, felicidade

Lá havia uma romãzeira

Meu pai

Como rei da aldeia, minha aldeia

Nas cascas na tenra terra

Coração puro e sorriso

Olhares ao longe

Sementes da fortuna

Forrando o chão que criança pisava

Tapete voando com a ventania

Lá havia uma romãzeira

Meu pai

Romãs brincavam como gotas,

sumos prometendo o amanhã

Prometida Terra

Aos uivos das lobas

os gatos no telhado

Em todos os olhos, olhares

Sementes douradas

Assim havia uma romãzeira

Firmeza, sólida casa... ventre

A sorte dentro do lar, o fruto

Impregnava as folhas do olhar criança

Sustentava o querer, o alcance futuro

Rasgava sóis

À sombra, descanso

Sementes à sorte no árido

olhares silenciosos

batida terra, poeira

Só o cheiro da romãzeira

Pois lá havia... na aldeia

Um pai.

Cíntia Thomé

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Cíntia Thomé
Enviado por Cíntia Thomé em 06/03/2008
Código do texto: T889276
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