CRIATURA das TREVAS

Estou vagando no desamparo alucinante que assassina aos descrentes

quando o sol desaba a crueldade do que ainda é puro sobre os deuses sem fiéis

Desconfiado vejo o amor rolar as encostas do crepúsculo

e nada modifica a solidão, a não ser o nascimento do sol (o vampiro-sem-igual)

Como percebes, não tenho escolha e não tenho estrada

Tenho um filho morto em cada bordel e uma dor de antes do céu

Sou o azar, concorda? De todas as criaturas das trevas

sou a que escolheu o abominável como estado

Sou o anjo-motorista do silêncio em disparada pelo fim do mundo

buscando no teu silêncio lisérgico uma floresta grega onde Pan

dançando loucamente compõe a tragédia das ninfas

Sou o apagado, o porteiro das sombras no submundo

De mim, não espere senão o secreto desaparecimento

Quando não restarem dúvidas além dos limites da Terra,

saberás do meu túmulo

(selado pela espada do Arcanjo Gabriel para que tenham número os que sonham)