Em suas mãos

Tem em suas mãos um corpo em pedaços

Que só encontra refugio no calor dos seus braços.

Então pega esse corpo pálido, perdido,

Pressiona a dor, esmaga os porquês.

Prende, portanto tudo de uma vez!

E faça-nos viver tudo que não foi vivido!

A tristeza é um pendulo oscilando

Sobre nossas cabeças como um bando

De desejos e segredos incontroláveis

Os piores emergem das magoas: ressurgidos

Ser esquecido dentre os esquecidos,

Ser miserável dentre os miseráveis...

Tal qual quem para o próprio fim avança

Corre dentro da minha alma de criança

O fogo sonoro que como as lâmpadas luzem...

E queima e corta e quebra como iconoclasta,

Onde a força da paixão sozinha já não basta

Onde todas as canções de amor se traduzem.

E dentro desse contexto surge você

Trovejando profundissimamente em meu ser!

Na fragilidade mecânica dos meus atos,

Você vem como alicerce meteórico,

Devastando o meu eu fantasmagórico

Na penumbra panteísta dos meus passos!

E assim os sentimentos aparecem

Como as raras flores que florescem

E assim os sentimentos vão crescendo

E cada célula do corpo se agita,

Quando o inevitável se precipita,

São ventos de amor me corroendo...

E você de longe ia me vendo

Angustiado e só de amor vivendo.

Sem jamais indagar a imprecisa visão

Dos povos que cultuam heróis mortos

Dos heróis oriundos de mortos povos

E do abismo e do cinismo dessa prisão.

Quando um dia consegui fugir

Para em sua direção partir

Vi um pólipo de reentrâncias

Vi de novo a face da dor, e não,

Pude me lançar de vez em suas mãos

Chorei então ao sabor das distancias...

Mas a vida é mesmo subjetiva

Com subterrâneas perspectivas

Das alucinações indefiníveis

Da tal felicidade que buscamos

Que esta sempre onde não estamos

Longe das mentes perecíveis...

É preciso ser eterno e não mortal!

É preciso ver o sobrenatural

Pra lidar com esse sentimento gigante

Da substancia, do cosmo, da matéria,

Que resgata o corpo da miséria

E do caminhar sozinho e inconstante.

Viver sem adorá-la me horroriza

Meu organismo sabe que só de ti precisa!

Essa certeza devora minha existência

A rutilância efêmera da quimera

A força inorgânica da terra

Que dorme tranqüila em minha consciência.

Melhor que os lábios, os teus olhos falam,

Perante mim eles se deparam...

Queria mergulhar neles calmamente

E respirar o ar dos teus pulmões

Sentir batendo juntos nossos corações

Sentir tua boca na minha plenamente!

Ah... Dentro de toda vida mora

Um sentimento profundo que outrora

Quis fugir pra longe e exilar-se

Mas do medo ela se torna escrava,

Essa vida que vive como a larva

Que tenta em tudo metamorfizar-se!

Oh Clarão dourado fascinante...

Da elipse da lua insinuante

Vem de noite visitar meu espírito só

Comprimir as torturas sanguinárias,

Varrer minhas lembranças solitárias,

E soprar-me ao léu, pois sou pó!

Sem você vou pra recônditos lugares...

E vivo pelos ares, nos mares...

Angustiosos da saudade!

Dos instintos que ensinam,

Dos desejos que raciocinam,

À luz da realidade...

Beijos, beijos, quantos imagino!

Na alegria do sonho de menino

Companheiro de toda travessia,

Na ultrfatalidade abandonada,

Dentre todas que vinham pela estrada,

Eras tu quem eu tanto preferia.

Sozinho a caminhar de madrugada

Observando a paisagem ofuscada

Me senti em um vale de almas suspensas

Tive medo e olhei paro o chão

Como eu queria estar em suas mãos

Pra não sentir tais sensações intensas.

No cerne, no ponto de convergência,

É preciso respirar com paciência

Pra entender a lógica violenta

Que de longe já provoca dor

E na sua ausência aumenta o terror,

Que facilmente minha vida arrebenta.

Apesar dos que pensam os felizes,

Os tristes também sabem amar

E o amor que nasce na tristeza

Torna-se maior do que toda natureza

Infinita, perene ao ato de amar...

É um amor vibrante, eloqüente!

Que cresce e toma forma derrepente!

Como cristais de gelo, formas claras...

Que no inverno desenham a paisagem,

Do seu rosto esculpido na imagem

Das declarações de amor mais raras

Tem sido assim minha vida de espera

Sozinho, perdido a vagar na terra.

Mantendo a esperança no silencio do terror

Transpondo as magoas pra levantar do chão,

Alcançar a gloria das tuas mãos

E viver para sempre a plenitude do amor...

Nilton Junior
Enviado por Nilton Junior em 02/03/2008
Reeditado em 30/12/2009
Código do texto: T884567
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