À JANELA DO HOTEL
À janela desse hotel, observo pedaços daquela estrada;
Os veículos que se vão, não conseguem me levar de volta;
Os que chegam trazem lembranças, que dão forma ao meu nada;
E viajo pra o local de onde jamais saí, com saudades fazendo escolta!
A proposta que me faz essa paisagem, é por demais irrazoável;
O olhar que se perde dentro em mim, só se acha onde veio;
O encanto do calor que eu deixei, torna este manto detestável;
A coragem de ser forte tão distante, é menor que o meu receio!
Então debruço na janela desse hotel, o meu sonho de retroagir;
Vou provar ao meu progresso, que avanço no meu recuar;
Pois a paz de meu governo, veste o hoje de um outrora a insurgir;
E pra localizar o que mais gosto em mim, tenho que me desencontrar!
Eu aceito o pedido de perdão, que me fez a circunstância;
Eu discirno cada víscera involuntária desse evento;
Mas a janela é pequena demais, pra permitir o pulo dessa distância;
E o peso das vontades apartadas, esmigalha tanta solidão ao relento!
Por isso eu olho um pouco de mim, na cena agitada que agora assisto;
Isso ou aquilo, eu ou tudo mais - somos menores do que ela;
De voltar o quanto antes, aos braços de meu paraíso, não desisto;
É por isso que meu pranto irriga as flores, debruçado á janela!!