Maravilhosa

As circunstâncias — elas,

sempre elas — fizeram

com que eu me afastasse de ti,

e pelo Rio acabei te trocando:

— Andei iludido a pensar que aqui,

com tantas paisagens e distrações,

seria levado, naturalmente, a te esquecer...

(uma troca desafortunada eu fui fazer)

Por mais maravilhosa

e cheia de encantos mil,

não pode esta cidade

fazer as vezes de ti:

— A ela faltaria a sensibilidade do teu espírito,

a nobreza do teu caráter, tua imanente sinceridade

— a coisa indefinível que sentimos naqueles

que nos levam à comunhão com a Criação.

Ela é tão pródiga em belezas

— do alto o Redentor a dominá-la,

o Pão de Açúcar à Guanabara —

que chegamos a cair tonteados.

Carece ela, no entanto, da doçura que tempera

o teu corpo abençoado, a tua alma iluminada

— decerto uma concessão dos deuses

para nos confortar neste conturbado mundo.

Deitam-se, na orla, finas areias brancas,

os mui serenos mares verdes,

e no céu azul e límpido

corre ar puro da Mata Atlântica.

Mas não se tem a graça que nos concede o teu sorriso,

o prazer inebriante a que nos leva

o respirar o mesmo ar que tu suspiras,

sentir o frescor que exala de ti...

A exuberância das suas montanhas

— de tão singulares formas —

as fazem soar místicas

como transmitissem a força do sagrado.

Impossível, porém, competir com a tua presença,

com o bem que nos reserva a energia que flui de ti

— te acompanhar nos teus mais íntimos sonhos,

compartilhar os teus mistérios mais secretos...

São tantas luzes, tantas imagens,

tantas coisas acontecendo

que somos levados — encantados —

a nos esquecer da vida.

Nada que se compare a estar na companhia tua,

fonte primeira de todos os lazeres, de todas alegrias,

de todas as festas, sempre a nos contagiar:

— Estar contigo, existencialmente, é estar dançando!

Aparenta mesmo o Rio

ser cidade mais do que abençoada.

A Mãe-natureza mora — e vibra! — aqui,

e nos sopra o amor, o deleite, a poesia...

Mas não se sente a paz, a pureza e o poder

como aqueles que emanam de ti, do teu próprio Ser.

Coisas que, mesmo que tentes, não podes esconder:

— Teu brilho vem dos Céus e portanto é inextinguível.

Só tu és... verdadeiramente... Maravilhosa.