Um Coração
Um coração, que frouxo...
A grata posse de seu bem difere,
a si próprio rouba,
E a si próprio fere...
Ornemos nossas testas com as flores;
E façamos de feno um brando leito,
Prendamo-nos em laço estreito,
Gozemos do prazer de sãos amores.
Sobre as nossas cabeças,
Mesmo que jamais nos detenham, o tempo corre...
E para nós o tempo que se passa,
Também morre...
Com os anos, o gosto falta,
E se entorpece o corpo já cansado;
Triste, o velho cordeiro está deitado,
E o leve filho sempre alegre, salta...
Com a mesma formosura...
É dote, que só goza a mocidade
Mas isso passa,
Logo rugam-se as faces, o cabelo alveja,
Mal chegamos à longa idade...
O que haveremos de esperar?
A não ser que os dias passem ...
As glórias, que vêm tarde, já vêm frias,
E pode enfim mudar-se a nossa estrela...
Aproveite seu tempo com sabedoria, antes que o mesmo faça,
O estrago de roubar ao corpo as forças,
E ao semblante, a graça...