Minha Doce Poesia
Minha doce poesia,
Perfeita e de versos claros.
Corres faceira em meus dedos
Como corre a lira nos de Orfeu.
Perfeita és, meu soneto.
Na medida do meu amor.
Assim, pois o mestre ensinou:
Que teu amor é chama que arde sem se ver em meu peito.
Canto teus louvores e em teu louvor,
Dispensando assim as musas;
Pois tão belo és tu, poema meu,
Que de outra inspiração não preciso.
Saudades tenho de ti, doce poema meu,
Toda vez que em corriqueiro acaso meu coração se distrai
E deixa de cantar-te.
Entretanto feliz é meu lápis
Quando passeia pueril em teus negros cachos
E sorri sorrateiro
Aninhado em teus alvos braços.
Criança minha, meu bebê
Gero-te em meu ventre-folha
Amamento-te com meus sonhos,
Tu me realizas com teu amor.
Minha mais bela poesia,
Será que fazes idéia?
Por incontável tempo te aguardei.
Para enfim, poder tê-la agora aqui,
Louvando-te e mui amando,
Gerando frutos nossos
Na ponta deste indigno lápis.