SAUDADE

Coisa dolorida, que está sempre correndo á frente de sua tradução

Que rasga o peito sem piedade e tira o sal do alimento

Nos atira no abismo e com espinhos nos aguarda sem compaixão

É cão sem dono, é pão asmo, fabricado sem fermento!

É despedida repetida pelo eco do silêncio

É a constatação de que ninguém é completo, da cabeça aos pés

É o alguém que nos falta em meio a um vazio imenso

É a visita de uma só vez, das inseguranças mais cruéis!

É a energia inativa que imobiliza o mover dos ponteiros

É o cardápio inútil, que não reverte o desinteresse

É quando os olhos chorosos se sentem solteiros

Provável batalha onde a alegria perderia, mesmo que vencesse!

É um frio que o fogo congela, de baixo para cima

É um mapa que ensina como chegar a lugar algum

É o dia que nem mesmo a chegada do sol anima

É o encanto de todos os seres, que só conseguimos ver em um!

Coisa incisiva de fato, que até aos ossos enfraquece

Sua vítima não tem sexo, seu condenado não tem idade

Coisa que o sábio não explica, que ao lúcido enlouquece

Coisa de quem ama de fato, essa tal de saudade!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 19/02/2008
Reeditado em 21/01/2012
Código do texto: T866215
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