DEUSA AZUL NO ESPELHO

O amor que escondi dentro de mim

Que jamais foi revelado, com o tempo sumiu

Nas brumas da minha mente

Seus desejos, eu reprimi

E outros amores busquei

Freneticamente

Nos arredores da alma construí

Casulos dos sonhos possíveis

E consistentes

Pois aquele amor suprimido

Era grande, inumano, imortal

Como um grande continente

Assim busquei em todas as mulheres

O amor que em meu ser ardia

Infamemente

Um outro amor que não era meu

Tomou-me para sí, como seu

Perdidamente

Sua luxúria reacendeu o velho sentimento

Que em mim nunca morrera, porque era deveras

Latente

Porém este amor que era apenas espelho

Quebrou-se em minhas mãos

De repente

Ví então que a imagem nele encarcerada

Não era da mulher que agora me amava

Apaixonadamente

Havia uma outra mulher cujo rosto não via

Mas era real me atraia e também me amava

Estranhamente

Seu perfume embriagou-me

E seus pés flutuavam no ar

Suavemente

Ela me disse que não adiantava esconder

Pois o amor estará sempre gritando em nossa alma

Enigmaticamente

E que devemos olhar para dentro de nós

Porque o amor está trancado em um espelho

Em nosso inconsciente

Quando eu quis tocá-la o espelho se refez, notei

Que ela ficara do lado de fora e eu ficara preso

Inexplicávelmente

Gritei assustado e meu pranto

Doído e fartamente derramado

Lavou a minha mente

Quando me virei de costas

Ela aproximou-se suave como fazem as deusas,

E beijou-me carinhosamente

Disse-me, meu amor, não te preocupes

Eu te prendi para que tú sejas meu amor

Eternamente

Senti que o amor, a tanto escondido

Ressurgira como um sonho redivivo

E nos braços dela morreu para sempre