A carícia

Carícia é arte,

Saber acariciar é saber apreciar o belo,

É querer redesenhar a natureza,

Recriar humildemente a obra de Deus.

È simples fazer uma carícia,

Acaricia-se com os dedos, com pés, com a ponta do nariz,

Não menos prazeroso é o toque de quem presenteia

Nem menos dispendioso é o esforço para quem é presenteado.

Acompanham a carícia seus irmãos leais nos momentos mais íntimos

O afago, o carinho, o mimo, companheiros inseparáveis

Mas a feminilidade da carícia é única,

Têm em seu toque as mãos da mulher.

Saber acariciar uma mulher é saber tocá-la com alma feminina,

È reesculpí-la, recriá-la, redesenhá-la uma outra vez,

O afago a conforta, o carinho aconchega e o mimo a encanta,

Porém apenas a carícia é capaz de dar-lhe a segurança do amor.

Pode a carícia de alma feminina proteger e acalentar,

A carícia é arma poderosa que alimenta o amor e nutre a paixão,

Escudo poderoso, elmo dos mais fortes, armadura das mais pesadas

Que transforma a mais fina pele em couro resistente a tudo.

Nas mãos está o instrumento mais potente para oferecer a carícia

Que em seu calor, maciez, flexibilidade, agilidade e leveza

Carrega em cada poro o desejo de dar afeto, desejo de agradar

E com elas as carícias são criadas e recriadas numa descoberta constante.

Nunca se repete uma carícia

É sempre nova, sempre única,

A carícia é filha única mimada

Nascida do amor e da verdade.

As mãos acomodam-se no rosto da mulher como água fresca de cachoeira

Refrescando-lhe a pele macia cansada do dia estafante,

As faces arredondadas sabem aceitar a mão de um homem

Como as águas cristalinas de um rio sabem massagear suas margem.

Os cabelos foram feitos para as carícias,

Compridos para prolongar o prazer,

Macios para enroscarem-se nos dedos,

Sedosos para impedir o abandono das mãos.

A nuca, maravilha da natureza,

Esguia, singela, imponente, bela, calorosa,

Nas mãos é o tecido mais suave do Oriente

A seda mais lisa dos cantos da Ásia.

Acariciar a nuca é como tocar a pureza,

Alisar sua pele é como roçar na beleza,

Amaciar seus músculos é como apertar uma fruta,

Tocar as paredes místicas da nuca é desvendar segredos.

O torpor na alma apodera-se quando os ombros se dão para a carícia

Relevo sombrio que aguça a sensação de sentir o prazer do toque,

As curvas solenes são encaixes perfeitos nas palmas da mão

Que deslizam suaves provocando arrepios e suspiros de satisfação.

Nos braços longos encontramos o caminho do deleite,

As caricias envolvendo os braços, as mãos e os dedos,

Fazem as mãos esquentarem e tremerem aos passarem perto do corpo,

Os braços ajudam no caminhar, guias de nossas mãos levadas por dedos sutis.

As costas recebem as mãos com a cordialidade de uma rainha,

Macia, quente, lisa, suave,

Nas costas encontra-se o vale perdido que aceita as mãos calorosamente

Então desliza, percorre, passeia.

Ao final, depois de tanto sofrimento no exercício do prazer,

Depois que as mãos percorreram todos os caminhos secretos,

A mão de quem recebeu a carícia coloca-se em meu coração

Que pulsando forte, quase pulando do peito, quase saindo pela boca,

Atônito vê quando se vira e vai embora. Vai-se embora o corpo que endeusei.