INCÓLUME
Como o repicar dos imensos
bombos, ruidosos e seguidos, assim
meu coração despertou, e o
que viu, não gostou.
Não gostou de ver as desigualdades,
o estado solitário, os constantes
monólogos, como não gostou das expressões dos meus olhos.
Olhos que percorrem o infinito
a procura de alguma coisa, de
tal forma pertinaz, que os globos
oculares demonstram querer
saltar de suas órbitas.
Não gostou de observar minha
obsessão em recordar momentos,
que já deveriam ter sido sepultados
pela própria decorrência do tempo.
Não gostou de nada, incluindo um
sentimento que continua incólume,
um sentimento que tem sufocado,
e que maltrata, causando à ocasião,
um verdadeiro pavor e tédio da memória.