CAMINHO

Construído passo a passo,
no vasto espaço de mim,
sou pensamento poético.
Na varanda de teus olhos,
te conduzo à paisagem.
Um ninho, tuas mãos quentes,
redes, teus dedos suaves,
em repouso deixo a ti,
meu sono e meu despertar.

Bem junto ao teu coração,
ouço o que tem a falar.
Silente, guardos segredos
que um dia ouvi murmurar...
Som, viajo na tua voz,
sou teu canto, pelo ar,
esquecida dos meus medos.

Gasto-me, rocha e ferro,
me vejo areia e limalha.
Solto-me, entregue ao vento,
sinto-lhe a força, espalho
meu pó e me assento,
em camadas superpostas.
Sou solo, sim, sou teu chão,
assim, venha em mim pisar,
vem calcar teu pensamento,
te chamo, vem caminhar.

Entorno-me, nuvem que sou,
enxurrada, levo embora
o desgosto, o cansaço.
Te envolvendo, sou abraço
da luz do sol sobre o mar.

Mas quando retorno, gota,
no começo, na nascente,
já não trago mais memória,
não reconheço essa estrada
e não sei se fui teu verso
ou palavra descartada...