ESPERANÇA

ESPERANÇA

Não sei mais o que é um beijo,

Daqueles gostosos na boca,

Este apenas eu vejo,

Nessas novelas tão loucas.

Lembra-se da última vez ?

Tenho certeza que não,

Com a minha lucidez,

Guardo no meu coração.

Era um amor proibido,

Seu pai não admitia,

Cada vez mais reprimidos

E sentindo agonia.

Eu era um pobre rapaz,

Humilde e trabalhador,

Nunca seria capaz

De um dia ser doutor.

Mas surgiu em sua vida,

Para plena felicidade,

Uma pessoa querida,

Dos seus pais e irmandade.

Lembro-me daquele doutor,

Bonito e alinhado,

Com um buquê de flor,

E um carro do ano, dourado.

Cada vez que avistava,

O casal a se beijar

Era como uma facada

No peito a me sangrar.

E sempre sofri calado,

não tinha a quem falar,

Por mais que tivesse orado,

Com Jesus, me punha a chorar.

Casada, se distanciou

E eu sofrendo ainda mais,

Mas foi a dor quem me incitou

A lutar mais e mais.

Eu tinha que virar gente,

Trabalhava o dia inteiro,

E resolvi, de repente,

Estudar pra engenheiro.

Foi com muito sacrifício

E sofrendo por amor,

Que consegui este ofício

E ainda ser doutor.

Tornei-me um vencedor,

Mas não me sentia feliz,

Pois era o seu amor,

Aquilo que sempre quis.

E sempre que era possível,

Procurava saber notícias,

Da minha amada invisível,

Minha querida Letícia.

Foi de um viajante,

Amigo meu de infância,

Destes muito falantes

Que soube das circunstâncias.

Foi um misto de alegria,

Porque tinha ainda certeza

De tê-la comigo um dia,

Como também de tristeza :

Soube que o seu par,

Com seu poder, conseguia,

Amantes à revelia,

E bebia de bar em bar.

Não era um bom marido,

Batia-lhe enfurecido,

E, de tão viciado,

Teve que ser internado.

Quando a notícia correu,

Que seu marido morreu,

Orei pela sua alma,

Mas juro, senti mais calma.

Aumentou minha esperança,

Guardo comigo as alianças

E se um dia quiser,

poderá ser minha mulher.

Nos meus cinqüenta anos,

Tenho ainda muitos planos,

Para nossa felicidade

E, com toda a humildade,

Guardo um grande amor,

Para você, minha flor.

Volte, mas que seja logo,

Pelo seu sim eu rogo,

Vamos passar o apagador

No nosso passado de dor,

começar uma nova vida,

Minha Letícia querida !

Auro.