QUANTO MAIOR A DOR, MELHOR O POEMA...

Nesse tempo todo de ausência,

você me ensinou a perder o autocontrole,

ao sentir a saudade apertar.

Aprendi a amar sem toque,

sem cheiro,

reprimindo o desejo,

teimoso companheiro das minhas

intermináveis noites de insônia.

Sem você, entendi a dor

de uma vida vazia de ternuras.

Aprendi a não contar mais o tempo,

marcando horas inúteis.

Aprendi a não ter expectativas.

A não esperar pelo nada.

Por mais que doa ou incomode,

ainda consigo colocar prá fora

meu inconformismo,

minha insatisfação.

Liberto as palavras presas na garganta.

Grito, choro, esperneio.

Se elas encontram eco em alguém, não sei.

Apenas desabafo.

Faço suas vontades,

espero...

muitas vezes perco a paciência...

Mas compreenda que estou vivendo

fases de abstinência:

fome de beijos,

de sexo,

de entrega,

de carinhos implícitos e explícitos.

Isso tira qualquer um do sério.

Ninguém me ensinou a amar pouco.

Sou assim:

ou a coisa é intensa a ponto de doer

ou não vale a pena.

Quanto maior a dor,

melhor o poema.

Não sei economizar amor.

Não sei reprimir a dor.

Não sei conter o desejo.

Não sei viver sem beijo.

Sei há quanto tempo não te vejo.

E sinto na pele

que isso dói demais...