Gente humilde
No inicio éramos seis irmãos: Adão, eu, Expedito
Eva, José Serafim e Geraldo Magela.
Morávamos numa estância em Sericita
Adorada e bela, o tempo foi passando,
A infância para trás ficando e hoje até a pacata
Sericita já não é mais aquela
Onde os homens andavam mais a cavalo que de sofisticados
Automóveis, a inocência vivia atrás e fora das cancelas,
As galinhas a cantar no terreiro, o gado que a grama
Pastava era a vaca leiteira e a ração industrializada
Nos cochos não existia.
Os amigos eram verdadeiros, não se pensava tanto
Na mais valia; tudo que se ganhava era para se alimentar
No outro dia, o lavrador andava de pé no chão, coisa
Que o homem não merecia, o monjolo quebrava o milho
O trabalhador sovava o feijão, e, nas casas mais pobres
Socava-se o café, tudo que era grão em casca, no pilão.
Tudo acabou: Adão morreu, Expedido escafedeu, Eva teve
Dois filhos, um do primeiro casamento que certo não deu,
Outro de um segundo cheio de felicidade, José constituiu
Familia e hoje não sabe quantos netos tem, Geraldo Magela
Não casou porque certamente não amou Maria, Joana nem
Gabriela. Eu, enquanto lá fora se mata, faço poesia,
Trancado neste mundo, considerado uma cela.