Gente humilde

No inicio éramos seis irmãos: Adão, eu, Expedito

Eva, José Serafim e Geraldo Magela.

Morávamos numa estância em Sericita

Adorada e bela, o tempo foi passando,

A infância para trás ficando e hoje até a pacata

Sericita já não é mais aquela

Onde os homens andavam mais a cavalo que de sofisticados

Automóveis, a inocência vivia atrás e fora das cancelas,

As galinhas a cantar no terreiro, o gado que a grama

Pastava era a vaca leiteira e a ração industrializada

Nos cochos não existia.

Os amigos eram verdadeiros, não se pensava tanto

Na mais valia; tudo que se ganhava era para se alimentar

No outro dia, o lavrador andava de pé no chão, coisa

Que o homem não merecia, o monjolo quebrava o milho

O trabalhador sovava o feijão, e, nas casas mais pobres

Socava-se o café, tudo que era grão em casca, no pilão.

Tudo acabou: Adão morreu, Expedido escafedeu, Eva teve

Dois filhos, um do primeiro casamento que certo não deu,

Outro de um segundo cheio de felicidade, José constituiu

Familia e hoje não sabe quantos netos tem, Geraldo Magela

Não casou porque certamente não amou Maria, Joana nem

Gabriela. Eu, enquanto lá fora se mata, faço poesia,

Trancado neste mundo, considerado uma cela.

R J Cardoso
Enviado por R J Cardoso em 08/02/2008
Reeditado em 08/02/2008
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