CAIS

Para Marília

Cada dia e todo dia

Gera-se tanto quanto o fio

Do manto acolhedor de um parto

Nascer é descobrir sempre um Novo Mundo

Sem a carranca de um barco

Sem canhão, sem nau incendiada

Arrancada a chance do arrependimento

Sem volta, nem revolta, nem vento.

Entrar na vida real

É corporeificar o imaginário

Em sucessão de aniversários

E apropriação de históricos saberes

É uma verdadeira saudação

A novos nasceres.

Nasce-se de máscara de corpo inteiro.

No porto, embarca-se num reboque sem pressa

Em canal estreito

Persistente, não regride a embarcação ufana,

No compasso do toque do tic-tac do tempo-leme

Concebido, o sagrado faz-se profano

E pelas reviravoltas da nova vida

Desprofana-se e se sacraliza

São ciclos intermináveis

Sob corrupções e eivas teimosias.

O Ser é estar, e este o querer,

O saber, o ousar, e o calar.

É preciso nascer, cada dia mais

Num sentido ad infinitum

De retorno ao Cais.

02.02.2008.

Sylvio Carlos Galvão
Enviado por Sylvio Carlos Galvão em 06/02/2008
Reeditado em 06/02/2008
Código do texto: T848153