CAIS
Para Marília
Cada dia e todo dia
Gera-se tanto quanto o fio
Do manto acolhedor de um parto
Nascer é descobrir sempre um Novo Mundo
Sem a carranca de um barco
Sem canhão, sem nau incendiada
Arrancada a chance do arrependimento
Sem volta, nem revolta, nem vento.
Entrar na vida real
É corporeificar o imaginário
Em sucessão de aniversários
E apropriação de históricos saberes
É uma verdadeira saudação
A novos nasceres.
Nasce-se de máscara de corpo inteiro.
No porto, embarca-se num reboque sem pressa
Em canal estreito
Persistente, não regride a embarcação ufana,
No compasso do toque do tic-tac do tempo-leme
Concebido, o sagrado faz-se profano
E pelas reviravoltas da nova vida
Desprofana-se e se sacraliza
São ciclos intermináveis
Sob corrupções e eivas teimosias.
O Ser é estar, e este o querer,
O saber, o ousar, e o calar.
É preciso nascer, cada dia mais
Num sentido ad infinitum
De retorno ao Cais.
02.02.2008.