"Amor para mais de 100 anos"

Homenagem à bela Dona Teresa Nobre

Não sabia que o Amor existia

Há muito tentei... como se um atleta pudesse ser.

Tomei anabolizantes

Freqüentei academias e me aventurei em massagens

Corri por muitas estradas e não poupei pernas

O Amor não sabe o que é o tempo

Sentimentos não compartilham da temporalidade

O meu grande Amor nasceu muito mais cedo que eu

Teresa, aquela que é mulher

A amei quando lhe vi

Sentia saudades dela sem mesmo a conhecer

Infelizmente nasci no ano errado

Teresa veio em minha frente, bem na frente

Ela carrega com galhardia a alegria e vivacidade de alguns anos

Passou dos 20 anos com filhos

Trabalhou e labuta como louca até os dias de hoje com netos e muitos bisnetos

O erro é meu

A culpa é minha

Ela nasceu bem antes

Pariu filhos e filhas, belos e belas como ela

Talvez não... ela é melhor, muito melhor

Ela resiste ao tempo

Ao vento e ao mar

A despeito das agruras da vida, está de pé

Trabalha

Corre aqui, ali, pega a panela, faz o almoço, passa o café

Limpa a casa, arruma as camas, acorda os outros e nos coloca novamente feliz

E como recebe as pessoas

Chega um, dois, três, vários...

A casa está cheia

E lá vai a majestosa Teresa, bela e firme

Passa outro café

Corre de novo,

Corta a carne, põe para lavar os panos

Conta uma, duas, três, quatro piadas e muitos casos

Lembra do passado

Faz a alegria da menina da casa

Diverte-se e divertem os outros

Ela não pára

É Amor demais

Humanidade demais

Chora, o cabelo cai, ela levanta

Ora, pede, a Deus pelo filho, salta foguetes e lembra da santa

Controla a água, vê o sol, pede a chuva

E rouba a cena do sertão

O tempo não tem vez

São vinte quatro horas, uma hora, duas horas e a jovem está de pé

Segura o Pablo

Beija a Fernanda

Oferece comida

Enxuga as lágrimas e palestra com Tetê

Recebe o Nilton

Resmunga com a Daniela

Abraça a Nide

Disserta com paixão o caráter de Tita

Fala de Vandinho

Brinca com Baio

Descreve Celino e lembra de Chevete

Ri de Suzana

Faz piada com a morte

Brinca com a vida

Fecha as portas às dez da noite, ninguém mais entra

Vai para a cozinha

Corta novamente a carne e ferve o feijão

Usa o sal e faz pouco caso da modernidade

Como é linda

Coisa mais linda e bela do mundo

Tenho dúvidas e “desconjuro” os homens que não desejam esse perfil de mulher

Falei pouco, mas não demais

Não contarei de sua vida do passado, também não sei...

Da luta com os filhos e com o sol escaldante no sertão

Do imenso amor que carrega pelos irmãos e do senhor José

Era, é, Amor para mais de cem anos

A morte e o tempo vão ser obstáculos

Amei muito e em poucos dias perdi em abraços fortes o grande e infinito Amor

Ela ficou no sertão

Fui embora com saudades e ressentimentos pelo céu

Remorsos tomaram meus pensamentos e minha alma carregada de nuvens negras

Nasci no tempo errado

Cheguei tarde demais

Por isso bato palmas e venero o senhor José que não conheci

Ele fez feliz minha amada que ficou nesse mundo de sol, divina e graciosa, tal como as estrelas das noites intensas e mansas do sertão.

Lúcio Alves de Barros (04/02/2008)