TREM de PRATA
Longas filas de escravos entram pelo terceiro milênio batendo cartão.
As mulheres fugiram dos meus sonhos, e só
dormi na
eternidade
tendo como censura contra a nudez as correntes
que sustentam o trem de prata nos precipícios da alma.
Jatos de aerossol derrubam estrelas devoradas
devoradas pelos cachorros
e tudo escurece
mas derramamos cerveja sobre a lua.
Te sonhei. O planeta partia-se mas sob teus pés os caminhos
eram firmes. O mal dos sonhos é que a linguagem se esvaindo
permanece no astral o segredo da chave que trazias na entrada
da cidade fulminada pelos bárbaros do motor.
Morrer já não é problema. Não tenho músculos para suportar
os golpes do sol. A noite revela meu reino e morcego-rei tudo
faço, o mundo me pertence na escuridão. De longe vislumbro
teus passos, mas há iluminações envolvendo-te, posso apenas
fazer de maldição o céu que usurparei.
Cães uivam chamando-me o nome, mas estava em tua janela,
de óculos escuros p'ra que tua luz não me cegasse.
Há injustiças que nenhum deficit explica.
O horizonte vermelho aos poucos aproxima-se troando tambores
e muita fumaça sobe pela curva do mundo.
Jogos de rua vão se tornando estranhos,
rinhas de galo escondem operações cabalísticas de escuderias secretas.
O trem de prata leva vampiros e demônios com mapas tatuados
nos rostos
guiado pelo anjo de asas rubras gravadas de todos os símbolos
de filosofias obscuras.
O trem é assim
a múltipla diferença.
O samba sucede-se com entranhas metálicas.
Te sonhei. Raios peludos penetraram a Terra
e tudo clareou.