Carta ao poeta
Devolva o meu coração, poeta,
Liberta-o dos teus versos, da magia,
Que em cadeias o aprisionaram, um dia.
Liberta-o da paixão desenfreada,
Da sede incontrolável da tua presença,
Da dor imensurável dessa tua ausência.
Devolva o meu coração, poeta,
Para que meu corpo pare de buscar-te
Nas incontáveis noites de solidão,
Nas infinitas horas em que o desejo
me consome e que com o nada me defronto,
pois busco ao redor e não te encontro.
Liberta-me, poeta, desse amor profundo,
Vasto, inexpugnável, como o próprio mundo,
Ignoto, como o meu sonho mais distante:
Merecer o teu amor por um instante.
Se não me podes amar; se é impossível
Corresponder ao querer de quem te quer tanto,
Seca minhas lágrimas, cessa o meu pranto.
Quando, assim, duramente, me disseres não,
Devolva-me, poeta, o meu coração.