Carnavalesco

... você se inventa, se recria

vive de farra, de orgia

faz firula, bota banca

chega junto, me desbanca

e me enche de alegria

você é aquele dos meus desvios

o bicho escolado, o dono dos cios

matuto safado, cria da roça

caboclo da cidade, sapé da minha choça

purpurina dos meus brios

você faz a festa da galera

dá o tom, o verso safado, a quimera

entra em todas, mistura alegoria

faz do mote um samba-gozo de folia

e na minha liberdade retempera

você é o reflexo da minha janela

a cortina balançante, a tampa da panela

folhetim dos meus teatros mais insanos

naquele lance sem perdas ou danos

meu horizonte sem cancela

por você eu uso a fantasia

distribuo a serpentina

esparramo confete à revelia

e visto teu abadá na minha esquina

saio no teu bloco e desfilo mais safada

tua máscara é minha luz e o meu lume

me faz rainha em manto de pele pelada

me vestindo de lança-perfume

do teu circo, me faz de lona

do teu pierrot, a colombina

da tua vida, me faz tua dona

no teu destino, a minha sina.

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