BEIJA-FLOR

As pipas eram âncoras da infância

onde a gurizada serpenteava

inocentes mensagens coloridas

semblante apolíneo da tarde estival.

Naquela época paulificávamos

os vizinhos em múltiplas invenções

de peraltices esdrúxulas.

Preso na trajetória fosforescente

delírio da explosão

inesperada dos sentidos.

Eu a vi pelo vão generoso

da janela horizontal.

Sem consciência de nada

que cercava-me

perfurei minha pele

suores de anseios úmidos.

Uma epifania no instante

raro de nudação.

Todos estavam distraídos

empinando a alegria pueril.

Eu apenas fixo

em pensamentos oníricos

cravejado pela beleza ardente

de uma flor vulcânica.

As indústrias Cantareira

cerravam as portinholas ogivais

que o tempo oxidou lentamente.

Homens com uniformes sujos

iluminavam a procissão das horas.

A tarde sacerdotal

dirigia a cerimônia litúrgica

entre os turíbulos do templo.

Dentro de mim córregos ígneos

larvas incandescentes

nos cem mil quilômetros

de veias, vasos e artérias.

Vislumbre chamativo

convite agradável nas entranhas da arena

leões da África famintos

vociferando em aldeia.

Meus tremores febris e cárneo

corta-me essa lâmina exata

estado incontrolável de querer.

Meu coração agita-se como beija-flor !

As pipas, os meninos absortos

na odisséia do firmamento.

Eu extático , néctar de sentir, provar

Forevemente , a sensação suprema dos mortais.

CARLOS HENRIQUE MATTOS
Enviado por CARLOS HENRIQUE MATTOS em 25/01/2008
Reeditado em 10/04/2009
Código do texto: T833112
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