Cômodos do tempo
Ao adentrar um cômodo, prepare-se: haverá poeira.
Poeira que não mente —
é o tempo sussurrando que passou,
e que ali, por muito, nada se moveu.
No canto, um baú empoeirado,
esquecido na sombra,
não pede por limpeza —
apenas repousa, calado.
Diante da porta,
um tapete repousa com letras gastas:
"Aqui jazem todas as suas memórias."
Um poema dedicado ao novo
não precisa conter o velho.
O velho é passado —
e talvez, enfim, possa repousar.
Agora há um novo cômodo:
as paredes são claras,
o ar tem cheiro de começo,
e tudo ali respira lar.
No canto, um baú novo —
brilhante, com espaço para o que virá.
Espero que ele também saiba esperar
o tempo passar.