Ainda não vi

Ainda não vi

Um amor de longa data

que às intempéries do tempo resistiu

Cujos anos caíram sobre o solo somente para sedimentar

Sentimentos mais nobres e distintos

Conchas lentamente reunidas em calcário

Para enfim bodas de ouro comemorar

Ainda não vi

Mas creio que hei de ver

Companheiros, companheiras firmes que

diante dos desafios da vida cotidiana

Erguem unidos seu canto insistente, destemido

Ainda não vi

Mas pressinto sua existência

Tão digna que é a alma humana

Tenho certeza que nas corretas condições

Muitos amores como esse foram semeados

E colhidos em abundância

Mas esqueçamos por um momento o tempo

Conservadores que nos tornamos!

Já vi autênticas ternuras passarem

pelas avenidas, no campo e nas cidades grandes

E em sua finitude ensinarem aos amantes

Um pouco sobre o mundo e sua matéria,

E tornarem-os brevemente tristes e eternamente alegres,

fitando o desfecho sem tanta agonia.

Afinal uma paixão e sua memória são grandiosas

Se fazem crescer na alma e no corpo

a vontade pela vida.