Aos poucos...
antes, o teu olhar
passava por mim
como quem atravessa um deserto
sem sede.
hoje, ele encontra o meu
de leve, de relance —
mas encontra.
e nesse instante
tudo dentro de mim
faz festa e reza.
não tenho mais o silêncio inteiro,
mas um fio de som,
uma fresta de esperança.
não tenho você,
mas sinto
que talvez
eu esteja voltando a ter.
aos poucos,
como quem rega um jardim depois da seca,
como quem aprende a andar
depois da queda.
ainda carrego teu nome no peito,
mas agora sem tanto peso,
com mais coragem.
porque talvez,
só talvez,
teu amor não tenha morrido —
tenha só se escondido,
esperando a hora certa
pra voltar.