HOJE ADEUS: SEMPRE AMOR

Por que me disse adeus?

Quando despertei à vida tive o tom azul de teu olhar.

Vi no futuro vislumbrar o encanto de teu sorrir.

Fui gestado pelo sonho no destino sonhado, aos maternos braços de teu afeto confiado

Governante desse mundo ilimitado, preenchido em cada metro quadrado tão somente por ti

Morto outrora, teu advento me permitiu o existir.

Teu perfume: minha brisa, minha estrada: o teu tato!

Nada tive do que tanto amei.

Fui ilustre enquanto ninguém, o mais próximo dos aquéns.

Transeunte desse leito caudaloso, conduziu-me o rio dos encantos cuja foz em meu peito brotou

Cada gota a prantear foram flores, meus amores foram um e foi morar na unicidade plural do teu alguém

Hordas e miríades se entregaram à tua forma e sob as liras da paixão, esse anjo em ti se tornou!

Para me saciar do pão que tu és, para regar o meu olhar com os mares doces nascidos em cada verbo teu

Para tomar as mãos abandonadas de teu filho e amamentar de deslumbre este que conjuga te amar

Para acalmar a tormenta em mim, para louvar a paz que me atormenta, para vencer a guerra que sou eu

Para trazer o som do beijo teu e erguer das cinzas quem te tem por terra, céu, água, fogo e ar!

Por que me disse adeus?

Que me importa a sapiência?

Nenhum compêndio ousou ensinar-me a te esquecer.

Mera abstração são meus membros, sou ossos secos que resistem à dor da maior amputação

Sou pedaço pequeno, folha caída, grão desprezível, rejeito do enjeito, sou canção do perder

Sou meu mal sem tua luz, meu real entenebrecer – quando mudo de tua voz, quando solto de tua mão!

Vou sonhar que teus braços são meus, vou pedir ao mar os teus olhos trazer

Quero doar a mim mesmo à imensidão dos encantos teus, reviver meu peito dando-lhe a ti

E se meu olhar voltar a sorrir, sei que nas ondas se acham teu ser, comovidas pelo meu sofrer

São entranhas de um eu que perdi, que se acham na distante estrada que eu quisera aqui.

Por que me disse adeus?

Não me posso apartar!

Vais tranqüila em busca de ti, vais distante sem neste a pensar;

Mas tu ficas e vives em meus sonhos, meu dormir, acordar;

Disseste-me adeus e nem sabes, quer percebas ou não: não foste sem mim - sempre a mim estarás a levar!

Reinaldo Ribeiro
Enviado por Reinaldo Ribeiro em 23/01/2008
Reeditado em 14/01/2012
Código do texto: T830012
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