AMAR VOCÊ É...
Amar você é andar por lugares que não existe,
uma ilha sem nome, um rio que insiste
em correr para trás.
Amar você é ouvir o eco de um segredo
que nunca foi dito , um véu inquieto
entre o grito e a paz.
Amar você é plantar sementes no asfalto,
esperar raízes onde só há desalento,
colher o vão, desfiar na face o contentamento.
Amar você é ser farol apagado no mar,
guiar navios que não querem chegar,
iluminar o abismo de um silêncio vivo.
Amar você é carregar um espelho sem reflexo,
encontrar seu rosto em todo objeto,
menos onde o olhar se faz.
Amar você é dançar lento com a sombra,
enlaçar o vazio que se alonga
e nunca se despede de você.
Amar você é escrever um poema em código
que ninguém decifra, ponto e vírgula,
traços de uma língua inerte.
Amar você é ser ventania parada no tempo,
agitando folhas mortas, em rodamoinho,
sem nunca tocar o chão.
Amar você é saber que o fim já começou,
e ainda assim construir um altar no escuro
para um deus que virou pó.
Amar você é isso: um verbo sem conjugação,
um infinito que se nega em toda direção,
e mesmo assim... não partir.