****** O VÍNCULO DAS ALMAS
Não é no fogo que arde e consome,
Nem no desejo que a carne reclama,
O amor que vive, que tem um nome,
É o que no tempo jamais se inflama.
É brisa mansa que embala os dias,
É rio calmo que sabe o rumo,
Não se apressa nas alegrias,
Nem se perturba em chão sem prumo.
No brilho doce de um olhar terno,
Na voz serena que traz guarida,
O amor se faz em laço eterno,
Vincando as almas por toda a vida.
Não é tormenta de amor ardente,
Que vem e passa sem deixar rastro,
Mas é o fio que sutilmente
Une destinos num só compasso.
É no silêncio que mais se sente,
Nos gestos simples, na mão que afaga,
No dom de ser constantemente
O porto calmo quando tudo esmaga.
É no sofrer que ele se prova,
Quando a alegria dá lugar à dor,
Mas mesmo assim, em cada prova,
Segue firmando-se em esplendor.
Não pede muito, não faz alarde,
Apenas cuida, espera e sente,
Pois sabe bem que a chama arde
No que é eterno e não somente.
E se no tempo os corpos cansam,
E se as palavras já são escassas,
As almas seguem, pois se amam,
Além do espaço que o mundo traça.
E quando o véu da vida cessa,
Quando se parte ao pó da estrada,
O amor prossegue, nada cansa,
Pois vive além da última jornada.
E assim se forma o amor sincero,
Não na paixão que um dia passa,
Mas no entrelaço puro e eterno
Que duas almas firmes abraça.