Entre o silêncio e o quase
Te esperei nos detalhes que ninguém vê,
nos vãos das conversas interrompidas,
nos silêncios que você fingiu esquecer.
Fui presença quando você sumiu,
fui ausência quando você me quis por perto.
Te escrevi sem letras,
nas entrelinhas do olhar que você desviava,
nas músicas que tocavam só pra mim,
enquanto você dançava com outra história.
E eu?
Eu fui aquela que sonhou acordada,
que criou cenas inteiras sem ensaio,
que te amou sem data,
sem convite,
sem garantia de retorno.
Hoje, me pergunto:
será que você me quis algum dia
ou só gostava de saber que eu estava lá?
Será que fui porto seguro ou só cais de passagem?
Ou será que eu inventei você
pra preencher o vazio que era meu?
Eu não quero mais ser quase.
Não quero migalhas de atenção,
nem sinais confusos.
Eu mereço inteiros,
e não pedaços de alguém que nunca soube ficar.
Então, te deixo aqui — no poema, na saudade,
no espaço entre o que foi e o que nunca será.
E me deixo ir, sem pressa,
com a certeza de que o amor que eu tenho pra dar
não cabe em mãos distraídas.