Desejo profano
Intrometometo-me pelas ancas da escrita
Pois a sina das letras é parir palavras
e de palavra em palavra
em meio a coxas tão tenras
chafurdo-me em libido alucinativa
E brotam como flores os conceptos
São letras e palavras e textos
a gozar da realidade subjetiva
E, do poeta, o gozo são só palavras
Mas, que intensas são tais!
Pois delas emana o desejo profano
Desejo que somente tais palavras
são capazes de subverter o que é frigido
Subserviente à poesia é a paixão
que desconecta o corpo da mente objetiva
Aquela cujo racionalismo impõe-se
como regra e caminho condicional
Mas se racional, restaria morta a poesia
De sorte que resiste o poeta
Pois, ainda que lançado ao pau de arara
em colheita de açoites dilacerantes
não se entrega à razão
E assim, se deixa levar
por tamanha luxuria
Por tamanho prazer
de se entregar a afagos
de letras, palavras e gozos