Imagem da musa nos versos

À noite sozinho versejo,

Em transe, com os traços da musa,

Surge-me um verso, e outro que o cruza,

Dois lábios macios de ígneo beijo.

Dois lábios, duas fogosas curvas,

Um dístico ardente na face.

Esse rosto é mesmo um enlace

Sedutor, como um cacho de uvas.

Quando os olhos brilham ao sol…

Não; quando o sol brilha a seus olhos,

Seus lábios rebrilham como óleos,

Afanam vista como anzol.

A imagem da musa é um furto:

Faço um verso e vou a outro verso.

Cantá-la é cantar o universo;

Inspirado, em transe, num surto!

Outra linha num poema é escrita:

Seu lábio sorrindo, feliz,

E a pontinha do seu nariz…

Por isso a palavra “bonita”

Existe aqui, em português;

Tinha de se criar, forte e leve,

Algum termo que o poeta escreve

Para cantar o amor dessa vez.

Posso enfim dormir, pois já vejo,

Nesse poema todo o seu corpo;

No meu peito não resta um sopro,

Alheio à musa a quem versejo!