Paixão!

Em tudo quanto deito a minha vista

Compõe-se o teu rosto:

Dum seixo ao afresco do máximo artista

O vejo composto!

Eu estou cego, mas meus olhos vêem

Paixão! Na qual dos erros nasce o beijo

E da briga intensa

Vem cortejo, e do ciúme surge o pejo,

Contudo, que vença

Paixão! Por qual, faz-se o minuto uma

Centena de horas!

Próximos, porém, o instante se esfuma;

E, por que me ignoras,

Eu choro, mas choro enquanto andar sem

Paixão! E, se, alheio ao mundo, te falo,

Não sou senão eu!

Mas, se, entre todos, tímido, me calo,

É que me abateu

Paixão! Ai coisa que inquieta e acalma

O meu coração!

Fique ele partido, mas tão plena a alma

Desta sensação,

A que chamas nada: e eu chamo paixão!

27 de Dezembro de 2024.