Menina

O que fiz eu, ó senhora, ao trazer-te ao meu leito?

Ofereci damascos, secretos no peito,

cerejas que estouravam, doces e silentes,

te dei banquetes, mas tu, menina de chamas,

buscavas nas veias algo que o ouro não alcança.

Nos lençóis de névoa, te vesti,

mas teus olhos, estrelas, vi que se apagam aqui.

Procuravas calor da terra, toque fugaz,

não o brilho que te dei, mas o que se esconde em paz.

Te dei luxo, mas tu querias o abismo,

não o vinho que embriaga, mas o néctar do ritmo.

Ah, menina de cabelos queimando em segredo,

o que faço com este corpo, perdido no enredo?

Ao tocar tuas vergonhas, o desejo acende,

teus seios, sombras que à luz se estendem,

teus ombros, curvas que se entregam ao fogo,

tuas costas, Afrodite, moldadas no desejo profundo.

Em cada mordida de damasco, teu gosto me consome,

nas castanhas, meu beijo se perde e some,

tu és chama sem fim, mas em ti há ferida,

e eu, prisioneiro do silêncio, busco tua vida.

Mas o orgulho dobra a memória, vejo o que perdi,

troquei tua liberdade pelo ego que escolhi.

Não me deixes, menina, não me apagues,

pois sem ti, neste palácio, minha alma se perde em mim.

Ah, o fogo nos teus cabelos é mais que chama,

é a chave que me prende, me queima e inflama.

Então fica, menina, não partas deste labirinto,

pois te amo não pelo ouro, mas pelo fogo do instinto.

Eu, senhor, que tentei prender-te entre fios e joias,

descubro que és vento, e sou prisioneiro das tuas escolhas.

Mas me renderei, menina, ao prazer e à dúvida,

e me farei esquecer o mundo, ao te ter em dúvida.

Erogat C
Enviado por Erogat C em 01/01/2025
Reeditado em 01/01/2025
Código do texto: T8231405
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