Inverdade arrogante

Eu não venero a lua nem o sol,

Mas vejo-os como faróis, cegos e distantes,

Iluminando ruas silenciosas, vazias de memória,

Onde a verdade se dissolve nas sombras da inverdade arrogante.

Pesco sem anzol, sem rede,

Apenas sinto tua intenção, como um vento gélido que escapa por frestas,

Será uma miragem ou o ressoar de um eco distante?

Teu reflexo, fragmentado, nas vitrines quebradas,

Me atrai, mas me confunde, como uma cidade que se desfaz em neblina.

Ouço teu eco, suave e fatal,

Como passos perdidos em ruas que se estendem sem fim,

Teus olhos, como portas que se fecham antes de eu tocá-las,

Me chamam, mas cada movimento me afasta, como labirintos sem saída.

Seguro? Não. Sou um errante, perdido entre muros de desejo e ruínas de mim mesmo.

Sinto a fragrância das tuas dúvidas,

Que me molham como a chuva fina que dissolve a memória,

Meu nariz entupido busca o aroma do que já não existe,

Onde o tempo se dilui, mas nunca desaparece.

Provo tua saliva, teus dentes,

Como o gosto amargo de um edifício em ruínas, doce, mas marcado pelo abandono.

Ontem sonhei contigo, tão concreta, tão etérea,

Real como o último alicerce de um prédio que cede ao peso do tempo.

Te perdi no instante em que te encontrei,

Pois felicidade é um edifício desmoronando,

Com cada respiração, cada vento que desfaz

[]

Eu não venero a lua nem o sol,

Mas vejo-os como faróis que me guiam ao além,

Onde a verdade se esconde, na sombra da inverdade arrogante.

Pesco sem anzol, sem rede,

Apenas sinto tua intenção, pura e boa, em mares calmos.

Ilusão ou verdade? Tua beleza cardinal confunde e enfeitiça.

Ouço teu canto, doce e letal,

Melodia de sereia, teus cabelos vermelhos como labaredas.

Teus versos, como ondas, me puxam para o abismo,

Correntes invisíveis que me envolvem, que me quebram.

Seguro? Não. Sou náufrago em tua tempestade de desejo.

Sinto a fragrância de tuas dúvidas,

Molham-me em suores, rosas e vermelhos febris.

Meu nariz entupido busca o aroma perdido no ar,

Um vestígio de tua essência que me salva e destrói.

Provo tua saliva, teus dentes,

Maciez de fruta madura, doce, mas com o frio do abandono.

Ontem sonhei contigo, tão concreta, tão etérea,

Real como o mar que devora e deixa vazio.

Te perdi no instante em que te encontrei,

Pois felicidade é miragem onde a luz toca a sombra.

Erogat C
Enviado por Erogat C em 30/12/2024
Reeditado em 30/12/2024
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