Naquela segunda-feira
Naquela segunda-feira,
eu não disse que não te queria mais.
Meus lábios, cúmplices do que ainda sentia, jamais ousariam proferir tamanha mentira.
O que eu te disse — em lágrimas ocultas por uma tela fria —
foi que não sabia como caminhar ao lado de uma sombra tua,
tão distante da pessoa que, um dia, ocupou cada pequeno pedaço do meu mundo e me fez inteira.
Depois de tudo o que fomos, de tudo o que vivemos,
não consegui suportar, naquela segunda-feira,
a dor de ver um sentimento tão ardente
sucumbindo lentamente ao sopro gélido e impiedoso do tempo.
Aliás, o que o tempo tem contra os amores urgentes?
Por que ele rouba o fervor das saudades que queimam o peito?
O desespero dos encontros que clamam pelo agora?
Por que transforma chamas em cinzas,
deixando-nos apenas com o eco de algo que ainda grita em nós?
Naquela segunda-feira,
não esperava que você me seguisse de carro pelas ruas, aflito,
como quem se rebelava contra um destino já traçado,
subindo calçadas com a impulsividade de quem sentia
que, sem mim, o mundo se desfazia em pedaços.
Nem que escrevesse, de próprio punho, uma carta tecida de nós,
ou que deixasse, despretensiosamente, flores no banco do carro.
Tampouco pedi que se colocasse diante de mim,
com os olhos transbordando emoção e promessas,
brilhando mais intensamente do que o anel
que, com mãos trêmulas, você me propunha o "pra sempre".
Naquela segunda-feira,
tudo o que eu queria,
num sussurro ou num grito,
era ouvir você dizer:
“Fica. Vamos consertar isso.”