Nas Ruas do Perdão
Ele partiu sem olhar para trás,
Deixou o lar, a promessa, o cais.
Buscou na fumaça um falso calor,
Perdeu-se nas sombras, esqueceu o amor.
A vida, cruel, roubou-lhe o chão,
Fez do orgulho a sua prisão.
Nas esquinas frias, sem nome ou história,
A droga apagava o resto de glória.
Ela ficou, sozinha a chorar,
Com a alma partida, mas sem se quebrar.
Guardou em silêncio o eco da dor,
Ouvindo ao longe o pranto do amor.
Os anos passaram, o tempo pesou,
E um dia a rua por fim os juntou.
Ele, caído, sem forças, sem luz,
Ela, com lágrimas que o céu traduz.
— Por que me estendes a mão, mulher?
— Porque o amor não esquece quem quer.
Sou aquela que foste deixar,
Mas meu coração nunca deixou de te amar.
Ele chorou como quem volta a nascer,
Sentiu nos braços o poder de viver.
E ali, no abraço de quem foi traída,
Encontrou de novo o sopro da vida.
O passado é cinza, mas o perdão é ouro,
E na dor dos dois renasceu o tesouro.
Nas ruas que tudo roubaram em vão,
Ela lhe deu um lar: o seu coração.