O que vês?

Se só vês com os olhos,

Tem cegos o coração e a alma,

Tem cegos os sentimentos,

Se para além dos olhos,

Vês com o coração e a alma,

Prioritariamente,

Tens visão de essência,

Tens visão de existência,

Tens visão de profundidade.

Em um oceano de superficialidades,

De estéticas filtradas e formatadas,

Na aparência hipervalorizada,

Onde mediocridades se ocultam,

Atrás de mil imagens produzidas,

Se só isso te importa,

Prioritariamente,

Tua morada é oca,

És um vazio de sentido e experiências,

Mas se quebras o paradigma da multidão,

Se te libertas da modelagem mental,

Encontras outros sentidos e universos,

Mais do que ver, o que importa é sentir,

Sentir é vendar os olhos e ser sensorial,

Ouvir as batidas de um coração pulsante,

Sentir o perfume de baunilha e almíscar,

Sentir o toque dos lábios na pele,

Sentir o flamejar das emoções,

O tremor da exasperação,

Para além do prazer, sentir a entrega,

Sentir o cuidado, a ternura, o valor,

Não há amor sem isso,

Não há amor real,

Só a busca pela derrota,

Só a ilusão da frustração,

O amor real, sentido, não se vende,

À aparências, estéticas, gêneros, etnias,

O amor real, sentido, não se busca,

Ele te encontra quando menos espera,

Ele não é o que queres,

Ele não é o que esperas,

Ele é o que precisas,

Ele sacode todas as expectativas,

Transforma os delineamentos,

Desestrutura todas crenças,

Te cabe aceitá-lo ou não,

Se não o aceitas é porque não vês,

Não sentes, não ouves, não entendes,

Cada um traça para si seu caminho,

Não cabe depois reclamar do destino,

Somos o que somos e quem não vê,

Quem não sente, quem não entende,

Perde. Azar. Boa sorte!