Dueto de Silêncio
Escrevo nas páginas em branco.
Por necessidade - quase física.
Percorro os paralelepípedos do papel
até o cais de meus sentimentos
e misturo tudo em palavras e emoções,
tão singelas e tão profundas ao mesmo tempo...
O transeunte olhar radiante
a te contemplar no espelho da vida,
a contagem desamparada do lapso de tempo
que nos separa no espaço deste universo de luzes.
Aquele instante único em que o que temos a nos dizer
comunica-se melhor no bendito silêncio de nosso mútuo olhar,
na libertação e isolamento que nos prende um ao outro
em nossa pequena-gigante janela do tempo profundo.
Tua imagem me percorrendo como fogo,
a brisa de teu perfume em meus pulmões -
permitindo-me respirar, teus olhos
beijando meus lábios num pacto de amor,
onde nossas almas atingem
o tipo de proximidade mais profunda
que nenhum toque pode romper,
nem uma tempestade
de águas encapeladas pode desmanchar,
nenhuma bruma de mormaço pode sufocar.
E sigo cozendo palavras aos sentimentos,
lenta e meditativamente,
com intervalos de silêncios
entremeados de torrentes de palavras
que tem muito a dizer,
que fluem de nosso mútuo-olhar
como longos duetos de encanto e silêncio...