Sussuros em Veneza
Na penumbra das vielas estreitas,
teu rosto se reflete nas águas
como um eco perdido no tempo.
A cidade, feita de suspiros,
me abraça com tua ausência.
Os degraus desgastados da ponte
são memórias esculpidas
pelo peso de passos silenciosos.
Teu perfume ainda dança
com o sal que vem do Adriático.
Lembro-me do vinho rubro
que deslizava em nossas taças,
como os gondoleiros pelo Grande Canal.
As palavras eram desnecessárias,
pois o silêncio traduzia o infinito.
Na Piazza San Marco, os pombos
eram cúmplices da nossa paixão.
O som distante dos violinos
se dissolvia na neblina,
como as promessas que fizemos.
No mercado de Rialto, toquei
as texturas de frutas e especiarias,
mas foi tua pele que senti.
Entre o aroma dos temperos,
o teu sabor era insubstituível.
Agora, Veneza é apenas um mapa
de emoções cartografadas por nós.
Cada esquina traz um fantasma
que murmura teu nome
e me deixa naufragar novamente.
A cidade flutua entre os séculos,
mas carrego tua lembrança
como uma âncora profunda.
O vinho de outrora adocica o amargo,
mas não há cura para o que fomos.