Sussuros em Veneza

Na penumbra das vielas estreitas,

teu rosto se reflete nas águas

como um eco perdido no tempo.

A cidade, feita de suspiros,

me abraça com tua ausência.

Os degraus desgastados da ponte

são memórias esculpidas

pelo peso de passos silenciosos.

Teu perfume ainda dança

com o sal que vem do Adriático.

Lembro-me do vinho rubro

que deslizava em nossas taças,

como os gondoleiros pelo Grande Canal.

As palavras eram desnecessárias,

pois o silêncio traduzia o infinito.

Na Piazza San Marco, os pombos

eram cúmplices da nossa paixão.

O som distante dos violinos

se dissolvia na neblina,

como as promessas que fizemos.

No mercado de Rialto, toquei

as texturas de frutas e especiarias,

mas foi tua pele que senti.

Entre o aroma dos temperos,

o teu sabor era insubstituível.

Agora, Veneza é apenas um mapa

de emoções cartografadas por nós.

Cada esquina traz um fantasma

que murmura teu nome

e me deixa naufragar novamente.

A cidade flutua entre os séculos,

mas carrego tua lembrança

como uma âncora profunda.

O vinho de outrora adocica o amargo,

mas não há cura para o que fomos.

João Paulo Leal
Enviado por João Paulo Leal em 27/11/2024
Código do texto: T8206959
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