Voo
Numa procura inconstante
Saí a caminhar, olhar e perguntar.
Encontrei o palco vazio e escuro,
Lá dois bailarinos bailavam.
Seus corpos eram plumas
Nas mãos da arte,
Suas roupas voavam no universo,
Pareciam penas,
Pareciam vivas,
Parecia que bailavam com eles.
A luz do sol invadia por uma brecha e
Iluminava suas almas.
Ele a equilibrava em seus passos,
Levando-a em direção ao sol.
Ela plena de Luz dava-lhe asas
Para içar vôo e chegar ao Céu.
Eu,
Mais próximo do sol fiquei,
Toquei os raios e
Senti meus pés pousarem
No chão empoeirado
Daquele pedaço de universo.
Eles deram-me as mãos
Elevando-me com a dança
Ao sabor daquilo que alimentava seu existir.
Dublei, dancei, nossos corpos fundiram-se.
Numa coreografia eterna,
Nossas almas eram caricaturas vivas
Exalando Deus para Deus.
Senti o paraíso rasgar-me o peito,
Tentei protestar e voltar,
De nada valeu,
O sangue escondeu as feridas
E fiquei cada vez mais próximo da humanidade.
Era um êxtase,
Minha respiração fluía
Suave e compassiva.
Olhei o sol e meus olhos
Perderam-se em tão grande imensidão,
Aterrissei meu olhar no palco
E ele estava vazio,
Não havia dança, nem gingado, nem passos...
Quase sem fôlego
Procurei o sol,
Não havia sol, nem brecha, nem raio...
Eu quis gritar,
Mas só havia paz.
Quis chorar,
Mas só havia plenitude.
Saí a caminhar, olhar e perguntar:
Seria Deus?