Acolhida
Há datas que doem mais do que o silêncio da noite,
marcadas a fogo na memória,
cicatrizes que o tempo insiste em não fechar.
Novembro, e lá está ele, o peso de um adeus sem respostas,
um pai perdido para o abismo dos próprios pensamentos.
E eu, órfã de certezas,
carrego perguntas que nunca terão eco,
tentando, em vão, juntar os cacos de uma ausência.
Há um luto que nunca acaba,
uma ferida que lateja ao som das horas.
Ontem, o mundo parecia maior que meus ombros,
o cansaço era mais que físico —
era o peso da vida, da história, do amor perdido.
E ao chegar em casa, desfeita e vazia,
encontrei teus braços como porto,
tua presença como abrigo.
Não me perguntaste muito,
não me pediste que traduzisse a dor.
Teu silêncio era mais eloquente que palavras,
e quando chorei no teu colo,
o mundo, por um instante, pareceu menor,
mais seguro, mais humano.
Teu amor, desarmado e inteiro,
se fez escudo contra o caos dentro de mim.
E ali, entre as lágrimas e o toque,
senti que a dor, embora minha,
também era nossa.
A certeza veio na forma do teu afago,
na calma que trouxe ao meu peito:
eu amo você.
E por mais que as sombras me cerquem,
sei que contigo posso sonhar com luzes
Mesmo que aos poucos, mesmo que entre tropeços,
Teu carinho é um lembrete,
de que, apesar das perdas,
a vida ao seu lado é um caminho
mais cheio de amor